IMUNIDADE
À CONTAMINAÇÃO DO SISTEMA ECLESIÁSTICO
Introdução
Queremos aqui insistir na possibilidade de harmonia entre o “melhor” do
seguimento denominacional e o Reino de Deus. Não há dúvidas de que o sistema
denominacional, como o conhecemos, está contaminado pelo espírito de culturas
milenares que forjaram a construção ética, política, social e religiosa das
sociedades e comunidades. Surge a indagação na alma daqueles que estão
inseridos em alguma denominação forte e histórica: “Como posso estar imune à
contaminação do sistema eclesiástico sem me insurgir contra ele ou renunciá-lo
definitiva e deliberadamente?” Acreditamos que nas próximas linhas forneceremos
algum equilíbrio para nortear crentes e ministros denominacionais cuja mente
tem sido iluminada pelo Evangelho do Reino e a Visão Apostólica.
i- ESTRUTURAS
OBSOLETAS DE GOVERNO ECLESIÁSTICO
Quando
falamos em estruturas obsoletas, estamos nos referindo aos extremos dos
episcopalismo e do congregacionalismo, dentre outros, que sobrepujam a
soberania do espírito Santo no corpo de Cristo. Estes sistemas desenvolveram um
conceito hierárquico totalmente discrepante e paradoxal às Escrituras, que cria
homens soberbos e idolatria à posições eclesiásticas. Nesse sistema, crentes
são discipulados nos moldes de uma hierarquia humanista e, por vezes, tirânica.
Os interesses de Deus e do Reino são subjugados pelos interesses pessoais de
auto-afirmação institucional, ou seja, se deseja mais credenciais de plástico
do que a unção do Espírito. É um sistema de patentes, quase militar, uma escada
de influência institucional, onde se almeja se tornar gradualmente maior com o
propósito de mandar mais. Sabemos que tudo isso não condiz com os princípios
contra-culturais do Reino de Deus. A maneira de sobrepujar estes velhos
sistemas de pensamento, não uma insurreição revoltosa ou um rompimento radical,
e sim, uma verdadeira aliança com o Reino de Deus e com toda a
sua proposta. (Lc 22:24-27; Fl 2:3-4)
ii- CONECTADOS
COM O SISTEMA, ALIANÇADOS COM O REINO
Uma
conexão é um encaixe flexível e adaptável em que ambas as partes podem
interagir, porém, podem se desencaixar quando há desgastes. Já uma aliança é um
pacto inquebrável e indissolúvel, estabelecido entre duas partes que
deliberadamente aceitaram as condições para uma união definitiva. Nossa relação
com o sistema denominacional deve estar sempre no nível de uma conexão,
esperando que a mesma seja harmônica; já nossa relação com o Reino de Deus, é a
única aliança que de fato jamais pode ser quebrada, pois é aliança com o
próprio Rei do Reino, Jesus Cristo, Deus. A conexão com o sistema deve ser
levada adiante até que o mesmo despreze arbitrária e deliberadamente a Visão e
os propósitos do Reino, é exatamente aí que somos obrigados a nos posicionar
favoráveis à vontade soberana de Deus, seu Reino. Podemos e devemos nos
conectar com homens de Deus no nível de cobertura espiritual, mas a
durabilidade dessa “conexão”, está restrita ao nível de compromisso dessa
liderança espiritual com o Reino de Deus. Não há aliança espiritual com instituições
e organizações humanas, ou denominações, pois esse é um conceito do sistema. As
alianças são com Deus e com seus embaixadores do Reino que assumem a
paternidade espiritual de vidas e ministérios (II Co 5:20).
iii- VESTIDOS
DA CULTURA ECLESIÁSTICA, REVESTIDOS DA CULTURA DO REINO
Uma das
coisas mais belas das denominações é sua diversidade cultural. Cada comunidade
cristã pioneira possui características litúrgicas e culturais singulares,
formas de expressar seu louvor e adoração, musicalidade própria, formas de
expor e pregar a palavra de Deus, maneiras diferentes de mutualidade e
interação, maneiras diferentes de se vestir. Em fim, cada um de nós deve se
esforçar para nos aculturarmos em nossa denominação, pois esta uma
característica fundamental de que possui uma mentalidade missionária do Reino:
a habilidade de aculturação. Sim, devemos nos vestir de nossa cultura
denominacional, mas é da cultura do Reino de Deus que devemos nos revestir, e
além de nos revestir dessa, a mesma deve ser nossa própria pele, pois uma veste
pode ser trocada, mas uma pele não, a não ser que alguém seja uma “serpente”,
sua pele será sempre a mesma, o Reino de Deus. (Cl 3:8-17)
iv- O IMPÉRIO
RELIGIOSO E O REINO DE DEUS
Deus
implantou um Reino na terra, e não um império, e existem diferenças marcantes
entre Império e Reino, e a primeira delas é que por trás de impérios sempre há
a influência de Satanás, aliás, é ele quem edifica impérios. “Ele [Deus] nos
tirou do império das trevas e nos transportou para o reino
do Filho do seu amor.” (Cl 1:13). Homens influenciados por
Satanás constroem impérios através de seu carisma pessoal, Jesus movido pelo
Espírito edifica um Reino através de sua Igreja (Mt 16:18; Lc 17:21).
Jesus não disse: é chegado o império (Lc 11:20); não disse: buscai o
império (Mt 6:33); Pedro não disse que somos sacerdócio imperial (I
Pe 2:9); na cruz não estava escrito: imperador dos judeus (Mt 27:37);
não existe na bíblia livro dos imperadores (1º e 2º Reis); Deus não mandou
Samuel ungir um imperador; na coxa do Cavaleiro (Jesus Cristo) não está escrito
imperador dos imperadores (Ap 19:16). No império as pessoas se
sacrificam e morrem pelo imperador, no Reino o Rei morre pelas pessoas; No
império o imperador e sua coorte vivem para ser servidos, no Reino o Rei e seus
súditos servem; no império os fins justificam os meios, vale se corromper; no
Reino os meios justificam os fins, basta obedecer ao Rei; Construtores de
império somente querem dar ordens, e edificadores do Reino somente querem
obedecer. Jesus deu ministros para a Igreja (Ef 4:11) e não Igreja para
ministros. Jesus ungiu ministros, e não imperadores para dar seguimento na
Igreja através de “monarquia hereditária”.
v- UM
GOVERNO EPISCOPAL APOSTÓLICO
De fato,
a Igreja é de Deus, mas Ele mesmo estabeleceu um episcopado sobre a Igreja,
senão, vejamos: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que
ele resgatou com seu próprio sangue.” (At 20:28). Mas note que o
modelo neotestamentário de episcopado é aquele que constituído pelo Espírito
Santo mediante uma liderança genuinamente apostólica. O apóstolo Paulo designou
Timóteo como Bispo das igrejas de Éfeso (I Tm 1:3), e Tito como Bispo
das Igrejas da ilha de Creta (Tt 1:5), e ele mesmo supervisionava à
distância essas igrejas, não através do cabresto de um estatuto ou regimento
institucional, mas mediante uma paternidade espiritual apostólica (I Tm 1:2,
18). Paulo não minava recursos financeiros das Igrejas para se ostentar com
seu ofício de apóstolo, mas seus filhos na fé e no ministério percebiam pelo
Espírito, seu compromisso de semear ofertas em sua cobertura apostólica (Fl
4:14-19; I Co 9:6-14; Gl 6:6). O que Paulo esperava de seus discípulos, é
que estes transmitissem a doutrina apostólica do Reino para outros obreiros
fieis, preparando-os para conservar este legado (II Tm 1:13). O
apóstolo Paulo delegou ao jovem pastor (bispo) da Ilha de
Creta, a autoridade e
autonomia para consagrar anciãos que seriam dirigentes das igrejas locais
(Tt1:5), mas este modelo
somente passou a vigorar plenamente dessa maneira no segundo
século. Foi justamente a partir daí que os
termos bispo e presbítero passaram a designar funções distintas, pois dado o
crescimento expansivo da Igreja, a
liderança carecia ser descentralizada através
de um
episcopado hierárquico com
bispos supervisionando presbíteros, ou seja, o bispo gradualmente, se tornou
presidente do corpo de presbíteros; a este era confiada a direção das igrejas
locais, e, àquele a administração da disciplina, porém, ambos exercendo o
ofício pastoral. Na visão
eclesiástica de Inácio, o bispo era o símbolo da unidade cristã e o
portador da tradição
apostólica. Clementedando
ênfase à visão de Inácio declara que os bispos são
os sucessores dos apóstolos,
assim o foram até o advento da Reforma Apostólica (graças à Deus). Tal conceito
tem suas origens no modelo judaico em dois
aspectos: (1) Sucessão
doutrinária (os bispos
receberam o ensinamento verdadeiro dos
apóstolos, assim como os
profetas de Moisés), e (2) Sucessão de ordenação (os
bispos tinham sido designados pelos apóstolos e seus sucessores em linha
ininterrupta, assim como a família de Arão).
Esse governo judaico-cristão do
episcopado foi bem sucedido e triunfou até o terceiro século, trazendo
tranqüilidade eclesiástica e ordem doutrinária, quando
então começaram os abusos e desmandos que
geraram o “sacerdotalismo” dos tempos posteriores.
vi- A
RENOVAÇÃO DOS VELHOS ODRES
Deus não
deseja destruir as denominações, e sim renová-las neste final de dispensação,
para enviar-lhe o vinho novo do Espírito Santo. Esta é uma palavra profética: “Antes
que eu volte minha noiva desfrutará do vinho novo, mas para isso, criarei novos
odres e renovarei os velhos. Aqueles que não quiserem renovação de seus odres,
simplesmente não beberão desse vinho do Meu Espírito, e aqueles que se opuserem
com força serão cortados da minha mesa. Eu farei ruir o velho sistema, mas não
destruirei as denominações; eu destruirei os impérios humanos e definitivamente
farei sobressair o Meu Reino sobre toda a Terra. Haverá um breve período de
tribulações e rejeição dos meus eleitos, mas Eu os pouparei e os farei reis e
sacerdotes do Meu Reino. Os novos odres já foram criados por Mim e já estão
prontos para receber, e alguns já receberão o vinho novo; agora, pelo
ministério de meus apóstolos e profetas estou renovando os velhos odres, e
estes desfrutarão de tempos jamais experimentados, nem mesmo por seus
antepassados pioneiros. Este é um tempo de renovação, e toda a minha Igreja,
cada um de meus redimidos, deve se engajar no processo de renovação. Ninguém
deve ficar alheio, pois se ficarem, alguns perderão o vinho, e outros perderão
a verdadeira Vida. Não temam em andar apalpando, pois eu os conduzirei neste
tempo por revelação para a Recriação e Renovação de Odres Espirituais.” (Inspiração
profética de 09/05/12 – Enéas Ribeiro).
Conclusão
O Senhor
tem elevado seus apóstolos e profetas neste tempo a um nível de revelação
espiritual jamais experimentado desde os dias de Paulo no deserto da Arábia e
João na Ilha de Patmus. Nada do que o Espírito tem revelado vem em confronto
com as Sagradas Escrituras, ao contrário, está trazendo luz a muitas coisas
outrora ocultas. Não precisamos empreender esforços humanos e intelectuais para
desencadear algum tipo de revolução religiosa, Deus está sabia e soberanamente
conduzindo sua Igreja para a edificação do Reino de Deus. A queda dos impérios
não é nossa responsabilidade ou nosso “ministério”. Deus nos presenteou com a
honra de sermos seus embaixadores, e edificarmos seu Reino na Terra, mas
somente a Ele cabe a deposição dos soberbos e a derrocada dos impérios (Dn
2:21). A Restauração de todas as coisas está diante dos nossos olhos (At
3:21). Não esteja cego. Receba em seu conhecimento espírito de sabedoria e
revelação, e receba iluminação para os olhos do seu entendimento (Ef 1:16-19).
Enéas
Ribeiro
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